segunda-feira, 24 de maio de 2010

Coelhos, Darwin e Genética



Coelhos de Porto Santo são todos descendentes de um só casalOs recentes estudos genéticos sobre os coelhos do arquipélago da Madeira dissiparam muitas das dúvidas que desde o início da sua história, abordada no livro «Ásia de João de Barros» (séc. XVI), no trabalho de Ernst Haeckel e nos estudos de Charles Darwin (século XIX), se levantavam.Na conferência «Charles Darwin e os coelhos de Porto Santo», Nuno Ferrand, coordenador científico do CIBIO - Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Universidade do Porto), contou a história e desvendou os mistérios. A iniciativa, organizada pelo «Ciência Hoje», teve lugar no Palácio Sottomayor, Figueira da Foz, no Dia da Biodiversidade, sábado passado.No início dos Descobrimentos portugueses, Bartolomeu Perestrelo navegou para a Ilha de Porto Santo com a missão de a povoar. No seu navio estava uma coelha prenha que deu à luz durante a viagem. Nos anos seguintes deu-se uma significativa “multiplicação de coelhos” e tornou-se impossível cultivar a terra em Porto Santo, porque estes “roíam tudo”.Nuno Ferrand explica que os estudos genéticos agora desenvolvidos indicam que a coelha-mãe era uma coelha brava de Portugal Continental e não domesticada, ao contrário do que Darwin escreveu no seu livro «The Variation of Animals and Plants under Domestication», embora isso contrariasse as suas próprias teorias, visto que estes coelhos eram demasiado agressivos.Outra dúvida prendia-se com a veracidade dos relatos históricos. Depois de se fazer uma análise às variantes genéticas da população de coelhos, chegou-se à conclusão que, de facto, toda ela descende de um só casal.Ernst Haeckel, no final do século XIX, estudou também com curiosidade estes animais, e defendeu que teriam evoluído para uma espécie própria, à qual chamou lepus huxley. Na verdade, a genética indica que não são uma espécie diferente, mas sim a mesma espécie adaptada às condições insulares.